Sep 25, 2009

Em devagar

"(...) Mas insensivelmente os lábios foram-se separando um pouco. Um dente. Subtil iluminado de pacificação serenidade alegria de ser - se te demorasses um pouco. E seres aí a vida rodeada de verdade por todos os lados. Um dente visível. Mas os lábios separaram-se um mais e são agora um sorriso claro solar. E instintivamente deixei que se demorasse aí até eu poder reconhecer-lhe o esplendor. É um riso, não vou cometer a imprudência de o perder. Está na linha do céu e do mar, não vou. A juventude sem uma força excessiva de o ser. A confiança - não vou. O futuro dos séculos a quererem vir. A segurança contra o medo a vileza a degradação. A morte. Nem na realidade há nele futuro algum. Porque todos os séculos do futuro e do passado se conglomeram ali no instantâneo presente. O riso. Sem olhos nem face. (...) Fixar-te para sempre, riso da minha pacificação.(...) Olho a boca selvagem (...) A língua. "

Vergílio Ferreira, in 'Na tua face

No comments: